(ESO) Utilizando o instrumento VISIR montado no Very Large Telescope do ESO (VLT), astrônomos obtiveram imagens, com o maior detalhe até agora conseguido, de uma nebulosa complexa e brilhante em torno da estrela supergigante Betelgeuse. Esta estrutura que se assemelha a chamas emitidas pela estrela forma-se à medida que o objeto liberta material para o espaço.
Betelgeuse, uma supergigante vermelha da constelação de Órion, é uma das estrelas mais brilhantes do céu noturno. É também uma das maiores, sendo quase do tamanho da órbita de Júpiter - cerca de quatro vezes e meia o diâmetro da órbita da Terra. A imagem do VLT mostra a nebulosa em torno da estrela, a qual é muito maior que a própria estrela, estendendo-se para lá de 60 bilhões de quilómetros desde a superfície estelar - cerca de 400 vezes a distância da Terra ao Sol.
Estrelas supergigantes vermelhas como a Betelgeuse representam uma das últimas fases da vida de uma estrela de grande massa. Durante esta fase, de curta duração, a estrela aumenta de tamanho e expele as suas camadas exteriores para o espaço a uma taxa prodigiosa - expele enormes quantidades de material (correspondentes aproximadamente à massa do Sol) em apenas 10 000 anos.
O processo pelo qual o material é ejetado por uma estrela como a Betelgeuse envolve dois fenômenos distintos. O primeiro corresponde à formação de enormes plumas de gás (embora muito mais pequenas do que a nebulosa que observamos nesta imagem) que se estendem no espaço a partir da superfície da estrela. Estas plumas foram previamente detectadas pelo instrumento NACO montado no VLT [1]. O outro, que é o motor da ejeção das plumas, é o movimento vigoroso, para cima e para baixo, de bolhas gigantes presentes na atmosfera de Betelgeuse - tal qual água a ferver que circula numa panela (eso0927).
O novo resultado mostra que as plumas observadas próximas à estrela estão provavelmente ligadas a estruturas na nebulosa exterior, nebulosa essa que se vê na imagem infravermelha do VISIR. A nebulosa não se observa no visível, já que Betelgeuse é tão brilhante que a ofusca completamente. A forma assimétrica e irregular do material indica que a estrela não ejetou material de forma simétrica. As bolhas de material estelar e as plumas gigantes que estas bolhas originam podem ser responsáveis pelo aspecto nodoso da nebulosa.
O material visível na nova imagem é muito provavelmente composto de poeira de silicato e alumina. É o mesmo material que forma a maior parte da crosta da Terra e de outros planetas rochosos. Em determinada altura do passado distante, os silicatos da Terra foram formados por uma estrela de grande massa (agora extinta) semelhante à Betelgeuse.
Nesta imagem composta, as observações anteriores das plumas obtidas com o instrumento NACO aparecem no disco central. O pequeno círculo vermelho no centro tem um diâmetro de cerca de quatro vezes e meia a órbita da Terra e representa a posição da superfície visível da Betelgeuse. O disco negro corresponde à parte extremamente brilhante da imagem que teve que ser tapada para que a nebulosa mais tênue pudesse ser observada. As imagens do VISIR foram obtidas através de filtros infravermelhos sensíveis à radiação a diferentes comprimentos de onda, com o azul correspondente aos comprimentos de onda menores e o vermelho aos maiores. O tamanho do campo de visão é 5.63 X 5.63 segundos de arco.
Notas
[1] NACO é um instrumento montado no VLT que combina o sistema de óptica adaptativa Nasmyth (NAOS - sigla do inglês Nasmyth Adaptive Optics System) e a Câmera e Espectrógrafo no Infravermelho Próximo (CONICA, sigla do inglês Near-infrared Imager and Spectrograph). Este instrumento fornece-nos imagens assistidas por óptica adaptativa, polarimetria, coronografia e espectroscopia, no infravermelho próximo.
Mais Informação
Este trabalho foi descrito num artigo científico que sairá na revista especializada Astronomy & Astrophysics.
A equipe é composta por P. Kervella (Observatoire de Paris, França), G. Perrin (Observatoire de Paris), A. Chiavassa (Université Libre de Bruxelles, Bélgica), S. T. Ridgway (National Optical Astronomy Observatories, Tucson, USA), J. Cami (University of Western Ontario, Canadá; SETI Institute, Mountain View, USA), X. Haubois (Universidade de São Paulo, Brasil) e T. Verhoelst (Instituut voor Sterrenkunde, Leuven, Holanda).
O ESO, o Observatório Europeu do Sul, é a mais importante organização europeia intergovernamental para pesquisa em astronomia e é o observatório astronômico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronômicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrônomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na pesquisa astronômica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronômico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projeto astronômico que existe atualmente. O ESO está planejando o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 42 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.
----
Matérias similares no Terra, G1, Inovação Tecnológica, AstroPT e Apolo11
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário