quarta-feira, 27 de maio de 2009

Microquasares

(Hugo Christiansen - O Povo) No ano mundial da astronomia, teremos uma celebração especial na cidade de Fortaleza que contará com a presença de astrofísicos e cosmólogos do Brasil e do mundo. Durante este importante evento científico e cultural, que será celebrado nesta semana, terei o privilégio de representar o Estado do Ceará como conferencista temático em tanto que pesquisador visitante da Funcap na Uece.

Um dos assuntos mais marcantes das últimas décadas em astrofísica relativista, tem sido a descoberta de microquasares em nossa galáxia. Os microquasares são sistemas estelares binários que constam de uma estrela ordinária e um objeto compacto. Um compacto, nada mais é do que o estagio evolutivo final de uma estrela normal (como o Sol) que após um processo complexo, denominado colapso gravitacional, resulta em um dentre três possíveis destinos: anã branca, estrela de nêutrons, ou em casos extremos, buraco negro. Trata-se de corpos estelares ultra-densos que nascem das cinzas das estrelas normais quando a maior parte do seu combustível nuclear foi consumida. Um microquasar apresenta ainda um feixe de matéria relativista ejetado pelos pólos e um disco equatorial de matéria proveniente da estrela doadora, tudo submerso em campos de radiação diversa.

Sabe-se que, quando associados a uma estrela normal, estrelas de nêutrons e buracos negros ficam literalmente sugando matéria e radiação da estrela parceira deformando-a completamente. Muitos destes sistemas emitem radiação em uma amplíssima banda de freqüências, que vai desde as ondas de radio até os raios-gama. Em particular, raios-X e raios-gama resultam de mecanismos dinâmicos que combinam processos macroscópicos e microscópicos entre os quais interações energéticas envolvendo prótons e elétrons. Interessa sobre tudo entender que são esses raios e ondas emitidos que trazem até a Terra informação inestimável sobre a natureza das suas fontes, permitindo-nos elaborar idéias e modelos sobre como é e como funciona o Universo distante.

Atualmente, na Via Láctea, existem registros de 15 a 20 microquasares, com peculiaridades individuais que fazem de cada um deles um laboratório único onde testar teorias de alcance universal. Motivados pela extraordinária potência dos jatos relativistas, recentemente propomos com meus colaboradores um modelo que prevê sinais altamente energéticos provenientes de alguns microquasares galácticos. Estes sinais devem chegar até nós não só por via de raios-gama como de partículas elusivas chamadas neutrinos muônicos que uma nova geração de detectores, já em construção, poderá observar em breve. A partir desse modelo, avaliamos colisões ultra-energéticas que podem ter lugar no interior dos jatos. Os jatos, desta forma, seriam as contrapartidas astrofísicas naturais dos colisores de partículas terrestres como o mundialmente afamado LHC, mas numa escala de dimensões inconcebíveis em nosso planeta.

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