(CAUP) A equipa do telescópio espacial Fermi, da NASA, divulgou o segundo catálogo de fontes de raios gama que foram detetadas pelos satélites LAT - Large Area Telescope. Das 1873 fontes detetadas, cerca de 600 são completamente misteriosas. A sua origem é desconhecida.
“O Fermi deteta raios gama que surgem de todas as direções no céu onde, à primeira vista não parecem existir objetos capazes de produzir esta radiação”, afirma David Thompson, cientista do projeto Fermi. Os raios gama estão ligados a alguns dos fenómenos mais violentos e energéticos do Universo, são produzidos em buracos negros ou em explosões de estrelas de grande massa. São de tal forma energéticos que a deteção feita através de telescópios óticos não funciona, o que complica a tarefa de identificar as fontes que produzem esta radiação.
Dois terços das fontes deste novo catálogo foram identificadas como estando próximas de objetos já conhecidos como emissores de raios gama, como pulsares ou blazares mas, para as restantes fontes não foi, até agora, possível encontrar uma origem. “Algumas destas misteriosas fontes poderão ser nuvens de matéria escura - algo nunca antes detetado”, especula David Thompson. Cerca de 85% de toda a matéria do Universo é matéria escura, matéria que sabemos que existe, pois vemos os efeitos que exerce sobre a restante, mas não se conhece ainda a sua natureza, pois a matéria escura não emite nem difunde luz. Os astrónomos não conseguem detetar matéria escura diretamente usando telescópios óticos ou radiotelescópios, mas talvez seja possível que a matéria escura esteja ligada a eventos relacionados com raios gama.
“Há muito que usamos o Fermi para procurar matéria escura”, afirma o investigador principal do LAT Peter Michelson (Universidade de Stanford, E.U.A.) Alguns investigadores pensam que quando duas partículas de antimatéria colidem se aniquilam produzindo raios gama. Nuvens concentradas de matéria escura poderão formar uma fonte de raios gama com comprimentos de onda detetáveis pelo Fermi.
“Se virmos um ‘alto’ num espectro de raios gama - uma estreita risca espectral de altas energias que corresponde à energia de partículas que se aniquilam - poderemos ser os primeiros a captar matéria escura”, afirma Michelson. A equipa vai continuar a observar estas fontes misteriosas. O Fermi observa todo o céu a cada três horas; esta sequência de observações vai acumulando informação sobre raios gama que posteriormente é analisada pelos cientistas. Até agora ainda não se acumulou informação suficiente acerca desta fontes para chegar a conclusões definitivas.
Uma outra hipótese que poderá explicar a origem de algumas destas fontes está relacionada com a colisão de galáxias. De acordo com Michelson e Thompson, colisões desta magnitude poderão gerar ondas de choque de grande escala que poderão acelerar partículas. Outras fontes poderão estar associadas a fenómenos completamente novos que poderão envolver buracos negros galácticos, por exemplo. Depois de mais trabalho e novas observações pode até ser que todas as fontes misteriosas estejam relacionadas com processos e objetos familiares, mas que não se sabia estarem associados a emissão de raios gama. “É claro que esperamos que estejam relacionadas com algo mais exótico como matéria escura, mas há que olhar também para todas as outras opções e hipóteses”.
Glossário
Pulsar - O nome Pulsar vem do inglês Pulsating Radio Source (Fonte de Rádio Pulsante). Os pulsares são estrelas de neutrões que rodam muito rapidamente. Os pulsares emitem raios gama. Têm uma vez e meia a massa do Sol, mas uma dimensão semelhante à de uma cidade. Alguns pulsares rodam centenas de vezes a cada segundo. Cerca de 100 fontes do segundo catálogo Fermi são pulsares de raios gama.
Blazar - Os blazares são fontes de raios gama associados a núcleos galácticos ativos, são portanto extragalácticos. Cerca de 1000 fontes detetadas pelo Fermi são blazares.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
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