segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Português envolvido em descoberta de “pulsar muito especial”

Paulo Freire trabalha actualmente no Instituto Max Planck, na Alemanha


















(Ciência Hoje - Portugal) Um pulsar é uma estrela de neutrões muito densa (400 mil vezes a massa da Terra) cujo estudo pode trazer novidades sobre vários fenómenos do universo. “São os objectos mais compactos que existem (depois dos buracos negros) e são como um núcleo atómico gigantesco, do tamanho de uma grande cidade, e com densidades de centenas de milhões de toneladas por centímetro cúbico. Uma classe de pulsar especial, os pulsares milissegundo, podem girar centenas de vezes por segundo”.

A grande maioria dos 2000 pulsares conhecidos são detectados apenas através de ondas de rádio. Sabia-se que muitos emitem raios gama, mas até 2008 só se tinham detectado seis pulsares em raios gama. Com o lançamento do satélite Fermi, já se detectaram mais de cem. Uma investigação internacional que envolveu o português Paulo Freire, do Instituto Max Planck, descreve um pulsar milissegundo muito especial. Em conversa com o «Ciência Hoje», o investigador explica por quê.

O pulsar – denominado PSR J1823-3021A – encontra-se dentro daquilo que se chama de enxame globular, um tipo de aglomerado de estrelas antigas de formato esférico e muito denso. O enxame onde foi encontrado chama-se NGC 6624 e está a 27 mil anos-luz.

O que torna especial este pulsar “é o facto de girar 183 vezes por segundo, emitir 100 vezes mais energia em raios gama do que a média dos pulsares milissegundo”. Esta descoberta pode levar a uma “revisão do nosso conhecimento sobre a formação dos pulsares milissegundo”.

Esta investigação, que reuniu numerosas instituições de vários países (Alemanha, EUA, Itália, Espanha, França, Japão e Suécia), está publicada na «Science» com o título «Fermi Detection of a Luminous γ-Ray Pulsar in a Globular Cluster».

Bolsa para estudar leis do Universo
Além de mostrar satisfação com a publicação deste estudo, Paulo Freire confessa que os últimos meses têm sido muito bons. O cientista foi um dos poucos privilegiados que conseguiu este ano ganhar um apoio de 1,9 milhões de euros, da European Research Council, concorrendo na secção Starting Grant. Esta bolsa específica “visa dar apoio a investigadores que estão, como eu, numa fase inicial de carreira, já depois de terem feito o doutoramento”, explica

Paulo Freire vai, assim, continuar a aprofundar a sua investigação em pulsares. O projecto chama-se «Beacon» e é bastante ambicioso. Durante os cinco anos previstos para a investigação, serão estudados pormenorizadamente pulsares binários através de um novo tipo de receptor de ondas de rádio, que vai ser instalado no foco do radiotelescópio gigante em Effelsberg, na Alemanha. “Estudando o movimento destes pulsares, podemos fazer testes extremamente precisos da teoria da relatividade geral de Einstein”.

“O estudo vai permitir excluir algumas teorias da gravidade alternativas. Vai tentar responder à pergunta: Será que existe mesmo matéria escura ou são as leis da gravidade que estão erradas?”. Seja qual for a resposta, “esclarecerá muitas dúvidas sobre as leis fundamentais do universo”.

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