quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A geografia de uma estrela abortada



(Mensageiro Sideral - Folha) Lembram a professorinha da quarta série? “Estrelas são astros grandes, que têm luz própria. Planetas são menores e só refletem a luz que vem do Sol, que é a estrela mais próxima de nós.”

Num mundo ideal, em que Joãozinho é um menino que presta atenção na aula, ele perguntaria: “Professora, existe alguma coisa que não é nem tão pequena quanto planeta, nem tão grande quanto estrela?”

A resposta é: não só esses objetos existem, como um grupo de pesquisadores acabou de fazer um mapa das nuvens de um deles. Estamos falando das anãs marrons.

Esses astros misteriosos (e bastante comuns) se formam exatamente como as estrelas normais, agregando gás e poeira de uma nuvem até formar grandes bolonas gasosas. A diferença é que, para essas desafortunadas, o gás acaba antes da hora, e o resultado é que o objeto não reúne massa necessária para fusão nuclear do hidrogênio — a reação que faz os astros “acenderem”. Temos aí uma estrela abortada.

COMPLICAÇÃO OBSERVACIONAL
Como se pode imaginar, esses objetos são mais difíceis de ver que o fictício planeta Nibiru. Afinal, eles são basicamente planetões solitários, sem quase nenhum brilho próprio, que vagam pelo espaço entre as estrelas.

Esses astros têm, por convenção, entre 13 e 80 vezes a massa de Júpiter, e não chegam a ser completamente “apagados”. Além do brilho gerado pelo calor de sua formação, no caso de astros jovens, elas também conseguem realizar módicas quantidades de fusão de deutério (uma forma pesada do hidrogênio), dependendo do tamanho. Não é suficiente para fazê-la brilhar muito, mas gera calor, que pode ser detectado no infravermelho.

Foi justamente observando nessa frequência do espectro eletromagnético que a equipe liderada por Ian Crossfield, do Instituto Max Planck para Astronomia, em Heidelberg, na Alemanha, conseguiu fazer o primeiro mapa da superfície de uma anã marrom.

Para isso, eles usaram o VLT (Very Large Telescope), telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) instalado em Paranal, no Chile.

O objeto escolhido para o estudo foi um descoberto no ano passado. A razão? É a anã marrom mais próxima da Terra, a 6,5 anos-luz de distância.

Aliás, na verdade ali há duas anãs marrons, Luhman 16A e B, girando uma ao redor da outra com um período de 25 anos. O estudo se concentrou em uma delas, Luhman 16B, e conseguiu revelar os padrões de nuvens da anã marrom.


A ideia é acompanhar esses padrões ao longo do tempo para aprender mais sobre a meteorologia das anãs marrons. Para se ter uma ideia do exotismo desses objetos, as nuvens lá são feitas de gotículas de ferro líquido, mantidas sob temperaturas superiores a mil graus.

Os pesquisadores, que publicaram seus resultados na última edição da revista “Nature”, esperam que eles sejam precursores dos estudos das atmosferas de outros planetas gigantes ao redor de estrelas normais.

Com efeito, uma das curiosidades sobre Luhman 16 é que existe a suspeita (com base em observações astrométricas) de que um planeta esteja girando ao redor de uma das duas anãs marrons.

Foi-se o tempo em que o Universo era tão simples como nas aulas da quarta série…
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Matéria original no ESO

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