sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Mistério da falta de lítio nas estrelas continua a desafiar astrônomos

Primeiro estudo da composição de aglomerado estelar fora da Via Láctea também mostra proporção do elemento menor do que a que se calcula ter sido criada pelo Big Bang



(O Globo) Em algum momento por volta de três minutos depois do Big Bang, a grande explosão que os cientistas acreditam ter dado origem ao nosso Universo há cerca de 13,8 bilhões de anos, a temperatura baixou o bastante para permitir que os primeiros átomos se formassem. Conhecido como nucleossíntese, este processo gerou basicamente enormes quantidades de isótopos de hidrogênio, alguma dos de hélio e uma pequena parte dos de lítio, os três elementos mais simples e leves da tabela periódica. Todos os demais elementos mais pesados, como o carbono que constrói nossos corpos ou o oxigênio que respiramos, só foram criados nas fornalhas nucleares das estrelas.

Diante disso, é de se esperar que as estrelas mais antigas, das primeiras gerações que se formaram depois do Big Bang, tenham uma composição que reflita esta receita original do Universo. Análises das estrelas mais velhas da Via Láctea, porém, têm mostrado uma proporção menor de lítio nelas do que o esperado, no que ficou conhecido entre astrônomos e cosmologistas como “o problema do lítio”.

Muitas explicações já foram propostas para solucionar este mistério. A primeira é que nossos cálculos da quantidade de lítio produzida pelo Big Bang estejam errados, mas experimentos recentes em poderosos acelerados de partículas capazes de recriar as condições desta explosão primordial indicam que não. Já a segunda é que o lítio teria sido destruído por estas primeiras gerações de estrelas antes da própria formação da Via Láctea, enquanto uma terceira é que algum processo desconhecido faz com que as próprias estrelas gradualmente destruam seu lítio ao longo da vida.

Agora, no entanto, o primeiro estudo da composição de estrelas em um aglomerado fora da Via Láctea também coloca a segunda possível explicação para a falta de lítio em dúvida. Conhecido como Messier 54, este aglomerado estelar se parece muito com os mais de 150 que orbitam a nossa galáxia. Na verdade, porém, ele é parte de uma pequena galáxia-satélite da Via Láctea, conhecida como a galáxia-anã de Sagitário, e está localizado a cerca de 90 mil-anos luz da Terra, mais de três vezes a distância de nosso Sistema Solar do núcleo da nossa galáxia.

Liderados pelo astrônomo Alessio Mucciarelli, da Universidade de Bolonha, na Itália, uma equipe de cientistas usou o telescópio VLT, do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, para medir a proporção de lítio em um grupo selecionado de estrelas antigas do Messier 54, em estudo já aceito para publicação no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”. E os resultados foram que os níveis de lítio nestas estrelas estão muito próximos dos encontrados nas estrelas da Via Láctea, numa indicação de que o que quer que provoque sua falta não é um processo exclusivo da nossa galáxia. E, com isso, o mistério do “problema do lítio” continua a desafiar os especialistas.
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